por ter sido educador de parte deste povo,
por ter batalhado sempre pela justiça,
por compactuar com a honestidade,
por primar pela verdade
e por ver este povo já chamado varonil
enveredar pelo caminho da desonra.
Sinto vergonha de mim
por ter feito parte de uma era
que lutou pela democracia,
pela liberdade de ser
e ter que entregar aos meus filhos,
simples e abominavelmente,
à derrota das virtudes pelos vícios,
à ausência da sensatez
no julgamento da verdade,
à negligência com a família,
célula-Mater da sociedade,
à demasiada preocupação
com o 'eu' feliz a qualquer custo,
buscando a tal 'felicidade'
em caminhos eivados de desrespeito
para com o seu próximo.
Tenho vergonha de mim
pela passividade em ouvir,
sem despejar meu verbo,
a tantas desculpas ditadas
pelo orgulho e vaidade,
a tanta falta de humildade
para reconhecer um erro cometido,
a tantos 'floreios' para justificar
actos criminosos,
a tanta relutância
em esquecer a antiga posição
de sempre 'contestar',
voltar atrás
e mudar o futuro.
Tenho vergonha de mim
pois faço parte de um povo que não reconheço,
enveredando por caminhos
que não quero percorrer...
Tenho vergonha da minha impotência,
da minha falta de garra,
das minhas desilusões
e do meu cansaço.
Não tenho para onde ir
pois amo este meu chão,
vibro ao ouvir o meu Hino
e jamais usei a minha Bandeira
para enxugar o meu suor
ou enrolar o meu corpo
na pecaminosa manifestação de nacionalidade.
Ao lado da vergonha de mim,
tenho tanta pena de ti,
povo deste mundo!
'De tanto ver triunfar as nulidades,
de tanto ver prosperar a desonra,
de tanto ver crescer a injustiça,
de tanto ver agigantarem-se os poderes
nas mãos dos maus,
o homem chega a desanimar da virtude,
A rir-se da honra,
a ter vergonha de ser honesto'.
Rui Barbosa
Poeta brasileiro - séc XIX e XX
Poeta brasileiro - séc XIX e XX
Estou a gostar do Blog, mas faça uma revisão na sua consciencia e veja daquilo que o pode envergonhar e pode melhorar, afinal se calhar aquilo que sente hoje, talvez já tenha feito sentir alguém, ou muitos num passado recente
ResponderEliminarAgradeço o seu comentário porque é sempre bom ter a opinião de outras pessoas. Parte dos problemas com que nos defrontamos actualmente resulta do facto de que poucas pessoas são capazes de emitir uma opinião sobre o que quer que seja.
ResponderEliminarQuanto à minha consciência, coloca-me uma questão difícil. Voluntária e premeditadamente nunca actuei com intenção de provocar danos (de qualquer natureza) a alguém. No entanto, não sou nem pretendo ser perfeito, porque penso que este desiderato não está ao alcance dos humanos.
A diferença está na intenção com que se praticam os actos, e na capacidade que cada um tem de reconhecer e de corrigir os erros.
Apesar de continuar a usar regulamente a máxima pós PREC "Crítica e auto-crítica" não me isento da probabilidade de alguma vez ter sido menos correcto.
E se não nos é possível evitar errar ao menos que se saibam reconhecer e corrigir as consequências dos nossos erros. Este é provavelmente o único caminho do progresso e do conhecimento.