Em 2 de Março de 2011 (DL nº 30/2011) o XVIII Governo Constitucional decretou a criação de Centros Hospitalares, partindo dum planeamento de gabinete feito a régua e esquadro, supostamente com a intenção de tornar "mais eficiente a gestão hospitalar das unidades de saúde envolvidas."
Depois de se terem desbaratado milhões e de se prepararem para gastar outros milhões em betão e ferro (leia-se aeroporto e comboios), veio agora o Governo da República promover a poupança de tostões, com a saúde das populações.
A reorganização da rede hospitalar portuguesa precisa de facto de ser implementada, até porque a realidade social, sanitária e de redes de viação foi alterada, o que se repercute nas necessidades dos portugueses em matéria de cuidados de saúde.
Quando diminuiu o número de crianças (que levou à redução do número de escolas) e aumentou o número de serviços hospitalares de Pediatria, criou-se um mega Hospital Pediátrico (numa área geográfica com menos de 2 milhões de habitantes) e promove-se o encerramento de outro (Hospital Pediátrico) numa área geográfica com mais de 2,5 milhões de habitantes.
Aumentou o número de idosos, cresceu a esperança de vida e foram criados depósitos para velhos, para melhorar as performances dos serviços hospitalares (alguns doentes com AVC vão da Urgência para casa), independentemente da situação das pessoas envolvidas.
No meio desta confusão e desta ausência de linhas de rumo criaram-se os Hospitais EPE que apenas conseguiram facilitar as despesas, proletarizar os quadros dos profissionais de saúde, mercantilizar os cuidados de saúde e pagar melhor aos seu gestores (por eles gastarem mais dinheiro).
Insatisfeitos com a obra, vá de juntar 2 ou 3 hospitais, o que de imediato permitirá reduzir o número de CAs e continuar a iludir o pagode durante mais uns tempos com falsas medidas de contenção.
Não foi realizada qualquer avaliação (grosseira que fosse) das consequências reais daquela decisão, para os cofres do estado ou para o sistema de saúde.
Alguns dirão que já existiam estudos e relatórios de comissões; é verdade pois eu próprio participei nalgumas destas comissões. No entanto, os conteúdos respectivos e as suas conclusões já há muito foram ultrapassadas pela realidade e de nada servem hoje.
Passámos o tempo a fugir para a frente e o abismo aproxima-se a cada dia.
Com a criação dos Centro Hospitalares, toda a gente se calou (em público); não iam arriscar-se a ser proscritos nem a ficar de fora da lista dos elegíveis para os lugares de topo daquelas novas organizações.
Protelou-se até ao prazo limite a nomeação dos novos Conselhos de Administração, não tendo sido realizado qualquer trabalho prévio que definisse as linhas mestras do funcionamento das novas instituições nem de preparação do novo regulamento interno (o que teria permitido tranquilizar os quadros).
Não foi promovida internamente a informação dos quadros, necessária à mudança. Não houve audição interna das angústias, nem dos projectos, nem das mais valias existentes.
No fim do período de desgoverno estão criados Centros Hospitalares sem governo. O poder está na rua, apesar do artigo 7º (DL nº 30/2011) referir que se mantêm "os respectivos titulares em gestão corrente até à nomeação dos novos titulares" o que ainda não aconteceu (nem vai acontecer, como foi tornado público pelo Sr. Secretário de Estado da Saúde).
No dia 29 de Março de 2011, a Comissão Interdepartamental do CHC - EPE reuniu, aprovou e tornou público um documento que conclui dizendo:
Os Directores de Departamento do CHC, EPE apresentarão documento que se situem num plano estratégico alternativo de Centro Hospitalar a que chamaremos, por hipótese, do Baixo Mondego e que envolveria, com mais e melhores justificações técnicas, diversas Instituições de Saúde da sua área de influência com papéis distintos na cadeia de prestação global de cuidados de saúde e salvaguardando os pressupostos referidos no ponto 6.
Este documento surge então como uma tentativa de suspensão da pena de morte, sem apresentar novos factos que sejam passíveis de indultar o condenado.
A Comissão acima referida é um órgão institucional do CHC - EPE, que teve conhecimento da intenção do Governo há cerca de 6 meses e apenas agora vem suscitar questões, que são do conhecimento público, que já existiam à data e que calou durante este mesmo período.
Quis o destino, que a implementação dos Centros Hospitalares fosse prejudicada pela situação política nacional. Queiram agora as pessoas responsáveis, continuar a assegurar as funções que lhes dizem respeito e a promover a discussão e implementação das medidas preconizadas no documento que subscreveram.