sexta-feira, 4 de março de 2011

CENTRO HOSPITALAR UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA, PARA O BEM E PARA O MAL.

A criação do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra concretizou-se formalmente com a publicação do Decreto-lei nº 30-2011 de 2 de Março. Esta publicação veio confirmar que a estrutura de Centro Hospitalar parece ser hoje a mais adequada à gestão de recursos humanos e técnicos destinados a prestar cuidados clínicos de elevada diferenciação e qualidade.


O Centro Hospitalar de Coimbra tem funcionado segundo este modelo, de modo a manter unidades autónomas altamente diferenciadas: Hospital Geral, Maternidade Bissaya Barreto e Hospital Pediátrico (incluindo o Centro Pedopsiquiátrico de Coimbra). O Centro Hospitalar Psiquiátrico de Coimbra, de constituição mais recente, também geria diferentes unidades segundo este mesmo princípio organizacional.


Este modelo mostrou a sua capacidade de gerir unidades hospitalares de modo racional, partilhando recursos de forma harmoniosa, nem sempre pacífica. Assim, temos serviços hospitalares específicos a cada um dos hospitais integrados e temos serviços comuns, quer em termos de actividade clínica quer em termos de gestão administrativa e logística. Esta experiência foi replicada nos últimos anos, noutras cidades do país e noutros hospitais, com tais vantagens que agora de difundem ainda mais pelo resto do país.


Foi assim finalmente abandonado o modelo de megahospitais, centralizadores e castradores; fundiram-se dois Centros Hospitalares num maior, e integra-se um grande hospital (Hospital da Universidade de Coimbra) num Centro Hospitalar, que assim recebe, para além das competências técnicas, a responsabilidade de participar na formação médica pré-graduada e de partilhar a formação pós-graduada, já existente.


Culminou um longo percurso em que as instituições cresceram e se diferenciaram separadas e divididas. Os anos passados permitiram criar uma maturidade capaz de assegurar o convívio salutar dos hospitais integrados, rentabilizando meios humanos e técnicos de modo a melhorar o produto saúde e a reduzir o custo de produção respectivo.


Esta congregação de meios discute-se desde a criação do Centro Hospitalar de Coimbra, quanto mais não seja pela polémica que gerou a abertura desta unidade e mesmo a sua diferente forma de estar e de tratar os doentes e a suas doenças.




A conversão do Sanatório e abertura do Hospital Geral em 1974, pela mão do Professor da Faculdade de Medicina de Coimbra Doutor Bissaya Barreto, veio dotar Coimbra de uma unidade hospitalar diferente, não vocacionada para o ensino, trabalhando com admissões programadas, sem Serviço de Urgência.


O Sanatório tinha condições de funcionamento que o tornavam diferente das estruturas hospitalares clássicas.




Os jardins e a vida exterior faziam parte do "programa terapêutico".








O interior estava preparado para acolher os utentes por períodos mais prolongados em condições familiares.



Estava assegurado o serviço religioso,


e  a actividade lúdica.


As condições físicas estavam preparadas para fazer outro tipo de intervenção médica, que não perdia de vista o aspecto social da vida. Esta matriz "genética" manteve-se ao longo do seu funcionamento como Hospital Geral, o que lhe valeu o apreço dos utentes e a satisfação dos seus profissionais.


Paralelamente o Hospital da Universidade de Coimbra estrangulava no edifício do Convento de S. Jerónimo. O aumento do número de estudantes de Medicina dos anos 70 levou o Hospital Geral a participar no ensino médico, situação que não teve continuidade, ao contrário do que aconteceu com o Hospital Pediátrico.
Quanto ao exercício da actividade médica, não resta dúvida de que a complementaridade das diferentes unidades prestou um serviço à comunidade, tanto mais evidente quando as condições físicas do HUC o mantiveram estrangulado no seu desenvolvimento.
Com as novas instalações, o HUC foi ganhando dimensão e peso técnico, ocupando um espaço cuja sombra dificultou a diferenciação continuada que o Centro Hospitalar vinha mantendo desde a sua criação.


Muitas tentativas foram feitas para tentar concretizar a organização que agora foi implementada, por força da necessária racionalização de recursos. Nomearam-se comissões, fechou-se o Serviço de Urgência ..., reabriu-se o Serviço de Urgência, mas a separação então existente convinha a todas as partes, pelo que nunca houve um debate real que procurasse um situação diferente daquela que fora criada nos anos 70.


Agora foi tomada uma decisão política, baseada exclusivamente em critérios financeiros, não económicos; este é um momento de grande responsabilidade para todos, apesar das dificuldades que são conhecidas: resistência à mudança, medo do desconhecido, tentativas de perpetuação de poleiros, lutas pelo poder, ausência de hábitos de partilha, arrogância intelectual... No entanto pode haver vantagens na partilha sistemas de informação, aprovisionamentos, recursos humanos, recursos técnicos... Assim se saiba tirar partido do conhecimento e da experiência acumulada em benefício colectivo, respeitando as especificidades e diferenças, como aliciante para a adesão ao projecto e para continuar no caminho da qualidade que une as instituições em causa.


Estranha-se no entanto que, em toda a região tenham sobrado ilhas organizacionais ectópicas, provavelmente esquecidas pela irrelevância mediática, como são os Hospitais da Figueira da Foz, de Cantanhede e de Anadia e o Centro de Medicina de Reabilitação da Região Centro.

Tudo isto denota a ausência  de planeamento estratégico nas decisões acima referidas, o que não é estranho, num país onde todo o planeamento de faz recorrrendo ao alegado "bom senso" que mais parece senso comum (ou mesmo ausência de qualquer senso).

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