“O Centro de Medicina de Reabilitação da Região Centro - Rovisco Pais, foi criado pelo Decreto-Lei nº. 203/96 de 23 de Outubro. A localização geográfica e os recursos naturais e logísticas foram aspectos fundamentais para a criação deste Centro, vocacionado para a prestação de cuidados diferenciados de reabilitação, readaptação e reintegração sócio-profissional dos deficientes e para o desenvolvimento de actividades de ensino e investigação.” SIC
O parágrafo anterior resume os objectivos daquela instituição de modo explícito e claro, traduzindo uma realidade sentida por todos os que trabalham, na Medicina de Reabilitação e que se empenharam por criar e colocar em funcionamento uma unidade que pudesse ser uma alternativa regional ao Centro de Medicina de Alcoitão.
As vicissitudes da politica nacional fizeram com que este Centro fosse liderado e implementado por alguém que nada sabia de Medicina de Reabilitação. Com a sua saída foi dada continuidade a esta tradição de privilegiar a ignorância, mantendo um CA e uma Direcção Clínica que nunca tinham trabalhado nesta área, nem na área da gestão hospitalar.
Com maus ingredientes, podem fazer-se boas receitas, normalmente com maus resultados gastronómicos.
Na próxima segunda-feira dia 23 vai iniciar a sua actividade (imperativos eleitorais a isso obrigam) a Unidade de Cuidados Continuados de Convalescença do CMRRC.
Com isto vêm confirmar as minhas afirmações de que “aquele Conselho de Administração não tem nem nunca teve um plano estratégico para a implementação de uma unidade capaz de prestar cuidados diferenciados de Medicina de Reabilitação, tal como o país e a região necessitam”. Limitaram-se a dar continuidade às ideias do Dr. Santana Maia (a quem só falta ser nomeado Fisiatra Honoris Causa) e seguir o filão do dinheiro fácil, arquivando definitivamente o plano que esteve subjacente à reconversão do Hospital de Hansenianos.
Mas também outra atitude não era esperada pois tal CA foi nomeado na melhor tradição coimbrinha em que o pressuposto de que um Doutor da Universidade de Coimbra nem precisa de trabalhar na área porque é senhor do conhecimento universal e pode desempenhar qualquer tarefa (nem que seja com uma dúzia de assessores, que seguem como carneirinhos – o poder do conhecimento académico).
No meio desta arrogância e desta ignorância constata-se também que é a própria tutela (regional) que não exerce efectivamente a sua missão, servindo apenas de elo entre os Ministérios e as instituições, o que permite assegurar mais uns quantos ordenados e mordomias, em vez de ser uma instância qualificada e conhecedora das necessidades e existências das populações.
Perguntar-se-á porque não pode o Rovisco Pais ter uma Unidade de Cuidados Continuados (UCC). Pode, mas não é a mesma coisa. Em primeiro lugar porque a actividade destas unidades não integra a missão da instituição e porque não vem dar resposta a uma necessidade real dos doentes nem das instituições de que serve de referência.
Os cuidados diferenciados de MFR constituem uma necessidade que não está ao alcance de qualquer um, enquanto as UCC florescem pelo país, criadas e exploradas por simples IPSSs, sem tradição nem conhecimentos médicos diferenciados.
Para criar a ilusão da diferenciação, intitularam as UCC de UCC de AVCs e Traumatologia do aparelho locomotor. Como se não bastasse, criaram um a barreira de entrada impondo e exigindo de critérios de admissão e de selecção tais, que não se percebe se estamos a falar de um ghetto ou de um ressort, ou se são apenas desculpas para ter a Unidade às moscas.
Em conclusão, à falta de promover o nível de diferenciação que se esperava daquela instituição, criou-se um Serviço para fazer concorrência às UCCs existentes, quando têm o mercado da diferenciação completamente disponível, à espera que dêem resposta atempada às necessidades existentes.
Enfim, fazem o que sabem e nós somos um pais muito exigente quanto aos meios (sobretudo burocráticos) e muito pouco exigente quanto aos resultados e quanto à qualidade dos mesmos.
Caro Colega
ResponderEliminarembora a maioria das vezes tenhamos divergências de opinião, não posso deixar de concordar no essencial com o texto sobre o Centro de Medicina de Reabilitação da Região Centro. Efectivamente não se está a cumprir a Missão para o qual foi criado. Pelo contrário, desvirtuam-se os objectivos e altera-se completamente o âmbito da actividade e o enquadramento que deveria ter na área especializada da medicina de reabilitação. Já não bastava a RNCCI a ocupar, conquistar e usurpar espaço à area da reabilitação,tentando por todos os meios substiruir-se às estruturas especializadas, como agora são os próprios "especialistas" a oferecer de bandeja a identidade e conteúdo da Medicina de Reabilitação e do Centro. Se não fosse trágico poderia até dar uma boa gargalhada, mas não, não rio!É trágico que não exista vontade de trabalhar no sentido de criar e desnvolver o nosso sector. É trágico que cada vez que se tenta fazer algo pela Medicina de Reabilitação na prestação de cuidados especializados de qualidade, sejam os próprios pares (que deveriam ser os mais interessados) a erguerem-se contra tudo e todos, invocando os mais idiotas argumentos. É trágico que o Plano Nacional de Saúde para 2011-2016 não mencione SEQUER as necessidades do País em Cuidados Especializados de Reabilitação e os substitua pelos Cuidados Continuados. Que a RNCCI não queira saber a diferença entre os dois sectores e mantenha a confusão compreende-se !! é bem mais "apetitoso" e "rentável" em termos de imagem e não só... Será que vai a RNCCI finalmente ser a dona da Reabilitação em Portugal ? Com estas ajudinhas parece-me bem provável. Os colegas do Rovisco Pais nem se insurgem ... é bem mais fácil receber uns quantos AVC's e umas quantas fracturas da anca enviados directamente dos Agudos (é preciso libertar camas e manter baixas demoras médias ...)por equipas de gestão de alta (as omnipotentes EGAS lideradas por técnicos de serviço social e enfermagem onde o papel do médico nem se vê - para já não falar que os doentes raramente são vistos... por um Fisiatra) , preencher toneladas de papelada, registar resultados medidos muitas das vezes sem conhecimento adequado (??), ter uma data de alta obrigatória ...enfim... é bem mais fácil do que fazer MESMO Reabilitação!!! Se querem transformar o que deveria ter sido um Centro Especializado do topo da rede numa Unidade da RNCCI, então retirem-lhe o nome,substituam a Missão, não lhe chamen Unidade HOSPITALAR e deixem de enganar os cidadãos dando-lhes gato por lebre. E fica o recado aos gestores do CMRRC: se não sabem distinguir entre o que é um Hospital Especializado e o que são cuidados continuados, melhor fora que não fossem gestores e se dedicassem à pesca !
Também em relação aos comentários estou absolutamente de acordo. Mas a malta está adormecida e quando acordar e der conta a especialidade já foi engolida e desapareceu (em Portugal), enquanto os ilustres se entretêm no auto-elogio colectivo de que tanto gostam (onde haverá espelhos mágicos para oferecer a esta gente?).
ResponderEliminarComo tal é possível, com os crânios todos juntos? Têm o guru da Administração (como Presidente) e o Papa da Reabilitação como ADJUNTO do Director Clínico.
ResponderEliminar...."Para criar a ilusão da diferenciação, intitularam as UCC de UCC de AVCs e Traumatologia do aparelho locomotor. Como se não bastasse, criaram um a barreira de entrada impondo e exigindo de critérios de admissão e de selecção tais, que não se percebe se estamos a falar de um ghetto ou de um ressort, ou se são apenas desculpas para ter a Unidade às moscas..."
ResponderEliminarNão seria interessante divulgar os tais critérios de admissão à UCCI do Rovisco Pais para sabermos quem come a carne e rói os ossos?