terça-feira, 3 de maio de 2011

SÓCRATES OUTRA VEZ? NÃO OBRIGADO II.

Nos últimos 20 anos (+) tenho trabalhado em Hospitais do Serviço Nacional de Saúde que tratavam doentes, tinham pouco dinheiro, tinham dificuldades para investimentos, mas tinham humanidade nos cuidados, interessavam-se pelas pessoas e pelo seu estado de saúde.


Veio o Ministro da Saúde Luís Filipe Pereira e os Hospitais começaram a transformar-se em entidades SA (Sociedades Anónimas). O PS criticou e veio o Ministro Correia de Campos que fez mais do mesmo com outro nome: passaram a entidades EPE (Entidade Pública Empresarial).


O que mudou? TUDO.


Os doentes passaram a ser utentes.
Os Hospitais passaram a centros de intermediação de doentes.
O produto contabilizado à saída deixou de ser "melhoria do estado de saúde" e passou a ser "actos produzidos".
Melhorou? CLARO. Vejamos como?


Os Hospitais EPE passaram a ter dinheiro para investir (e agravar o défice do sector).
O pessoal de saúde começou a ganhar mais (aderiu aos sistemas de combate às listas de espera e resolveu as que existiam e as dos próximos 10 anos, agravando o défice do sector).
Os administradores passaram a ganhar melhor por conseguir por estes preguiçosos a produzir mais (agravando o défice do sector).
Produziram-se mais actos (o que não significa que se trataram mais doentes) (agravando o défice do sector).
Viabilizaram-se os hospitais e clínicas privadas com cheques emitidos nos Hospitais Públicos (agravando o défice do sector).
Os Hospitais encheram-se de burocratas, admitidos para "organizar" as instituições (e empregar os amigos) e os profissionais de saúde começaram a sair (agravando o défice do sector).
Resumindo, nos Hospitais passou viver-se acima das capacidades (veja-se o défice das contas da maioria dos Hospitais EPE), para se produzir menos saúde, para viabilizar os negócios da Banca/Hospitais, para alimentar os boys colocados em lugares onde nada fazem, para aumentar a produção de actos cirúrgicos (mesmo que desnecessários) ou de consultas e meios complementares de diagnóstico (mesmo que desnecessários).
Este é o Sistema Nacional de Saúde que queremos continuar a ter? Este é o Estado Social que queremos preservar? Então vamos precisar de mais joelhos, mais ancas, mais cataratas para operar, porque cada cidadão só tem dois de cada e já poucos restam para operar. É pena que a Medicina Dentária esteja fora do SNS, uma vez que o número de dentes de cada cidadão daria para prolongar as listas de espera (e respectivos SIGICS ou aparentados) por mais 10 anos.
Haja quem pague (afinal estão 80 mil milhões a caminho, pois estes Ministros só sabem gerir com muito dinheiro para gastar) e quem vier atrás que feche a porta.

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