A fusão de vários hospitais para constituir centros hospitalares foi uma estratégia implementada, para tentar reduzir custos sem
prejudicar a atividade assistencial. Vários centros hospitalares foram criados
pelo país seguindo este modelo. Nalguns foi implementada uma reforma
organizacional fundindo serviços de utilização comum tais como instalações e
equipamentos, recursos humanos, gestão financeira, aprovisionamento, e mesmo
alguns de atividade clínica tais como os laboratórios de Patologia Clínica, de
Anatomia Patológica, ou mesmo a Imagiologia.
No entanto, a fusão dos serviços de ação médica foi objeto
de maior atenção em alguns casos. A necessidade de colmatar carências ou de
eliminar redundâncias podia ser claramente defensável. A fusão realizada nalguns
casos a todo o custo, para satisfazer desejos de poder pessoal ou para
vinganças mesquinhas, tem um preço que todos vamos pagar.
Em 2011, o Hospital Geral do Centro Hospitalar de Coimbra
tinha uma atividade assistencial cuja produção incluía nos Serviços de
Neurocirurgia, Neurologia, Urologia, Gastroenterologia, Infecciologia,
consultas, cirurgias, dias de internamento e sessões de hospital de dia. Apenas
neste serviços, em 2011, foram produzidos 31852 dias de hospitalização
envolvendo 4775 doentes, 14409 observações em Serviço de Urgência, 1265 sessões
de hospital de dia e 35572 consultas externas. Não incluí aqui a última
aquisição atabalhoada que se concretizou no fim da semana passada, a
transferência do ambulatório da Oftalmologia.
Com a fusão desenfreada, os equipamentos e recursos humanos
deste Serviços foram transferidos para o edifício do Hospital da Universidade
de Coimbra. Mas, com os Serviços foram também os respectivos utentes, engrossar
o volume de pessoas que diariamente se desloca ao edifício do Hospital da
Universidade de Coimbra que assim passou a ter de receber os profissionais que
lá trabalhavam antes da fusão, os profissionais que foram lá colocados em
proveniência do Hospital Geral, os alunos da Universidade de Coimbra (de
Medicina das restantes áreas da Saúde), os Internos do Ano Comum e os Internos
das especialidades hospitalares de Medicina Geral e Familiar.
Este avolumar de pessoas no edifício do HUC resultou no
esvaziamento no Hospital Geral, tudo em prol da fusão a que eu chamaria de
fagocitose.
Em consequência destas “nobres” iniciativas, a concentração
humana no HUC cresceu, provavelmente de modo nunca previsto à data de
construção do edifício. Os acessos ao edifício, os espaços de circulação, a
mobilidade vertical, tornaram-se caóticos. As filas de veículos no acesso ao
HUC chegam à rotunda da Fucoli e podem levar horas a escoar; em consequência
fica seriamente prejudicado o acesso de veículos de emergência, tais como
ambulância ou Bombeiros. Dentro do edifício, a espera de um elevador pode
facilmente durar 20 minutos; a circulação de pessoas fragilizadas compara-se à
dos espaços comercias em época de saldos (embora estes tenham espaços de
circulação de melhor qualidade).
E ao que parece, não vamos ficar por aqui uma vez que estão
em perspectiva mais deslocalizações de Pessoas e dos respectivo utentes. Tudo à
sombra de falta de estudo de impacto na qualidade dos serviços prestados, na
mobilidade dos utentes e na segurança dos edifícios e das pessoas.